
Projeto da FAUP premiado pela Fundação Getty com financiamento para o estudo da Piscina de Marés de Álvaro Siza
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·15.07.2020
O projeto da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), coordenado por Teresa Cunha Ferreira, para o estudo da gestão e conservação da Piscina de Marés, em Leça da Palmeira, projetada por Álvaro Siza entre 1960 e 1973, foi financiado com 100 mil euros pela Fundação Getty.
Trata-se da primeira vez que é distinguida uma obra localizada em Portugal desde a criação, em 2014, do prestigiado programa ‘Keeping It Modern’ da Fundação com sede em Los Angeles, EUA, dedicado à salvaguarda e preservação da arquitetura moderna a nível global, e que este ano tem a sua última edição. O estudo conta com o apoio da Câmara Municipal de Matosinhos.
Com a dotação global de 1,9 milhões, a Fundação Getty distinguiu apenas treze projetos em 90 candidaturas recebidas, distribuídos por Portugal (Piscinas de Marés), Alemanha, Bulgária, E.U.A., Países Baixos, Reino Unido, Rússia, Chile, Índia, Kuwait, Nigéria e Senegal.
O projeto dedicado ao estudo da Piscina de Marés, com a duração de 3 anos, tem como principal objetivo o desenvolvimento de um plano de gestão e conservação, assente na documentação da história, da construção e dos valores patrimoniais do edifício, na implementação de ferramentas digitais de levantamento, inspeção e monitorização, na investigação sobre o diagnóstico e reparação do betão armado, assim como na elaboração de manuais de manutenção e de utilização com vista à sua gestão e preservação futura.
Propõe-se, também, a criação de uma metodologia que possa ser potencialmente adaptada a outras obras de Álvaro Siza incluídas na lista indicativa do Património Mundial, proposta em 2016 pelo Governo Português à UNESCO, assim como a outras obras de arquitetura do século XX em Portugal.
“Trata-se de uma oportunidade única de desenvolvimento de um plano para a gestão e conservação futura desta obra paradigmática no contexto nacional e internacional, e do percurso profissional de Álvaro Siza. Além disso, estando atualmente em curso uma obra de reabilitação da Piscina coordenada por Siza, será possível documentar uma intervenção contemporânea de qualidade e, com a sua pedagogia, desenvolver um plano que respeite os princípios arquitetónicos, a integridade e a autenticidade do edifício”, aponta a coordenadora do projeto.
Para Teresa Cunha Ferreira, “este projeto enquadra-se também na temática da salvaguarda, reabilitação e conservação do património do século XX que, apesar do seu reconhecimento internacional, é em Portugal um ‘património em risco’ por se tratar de um legado recente, ainda não suficientemente reconhecido pelo público em geral, mais desprotegido do ponto de vista legal e, muitas vezes, alvo de abandono, de falta de manutenção ou até de intrusiva transformação”.
O projeto alinha-se com a missão da FAUP, e do seu Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo, de promoção da excelência científica e cooperação internacional, e constitui uma das linhas de atuação da Cátedra UNESCO “Património, Cidades e Paisagens. Gestão Sustentável, Conservação, Planeamento e Projeto”, atribuída recentemente à Universidade do Porto através da FAUP.
“Para a FAUP, a aprovação do projeto pela Fundação Getty reforça o reconhecimento internacional da qualidade e do carácter inovador da atividade desenvolvida pelos seus docentes e investigadores na área da conservação e reabilitação do património, onde se inclui, naturalmente, o património contemporâneo”, nota o Diretor da FAUP, João Pedro Xavier. Em simultâneo, é também um reconhecimento, não só da arquitetura ímpar de Álvaro Siza, o mais premiado arquitecto português (Prémio Pritzker em 1992), como também do seu legado enquanto professor, hoje jubilado, da FAUP.
O estudo será desenvolvido por uma equipa multidisciplinar nas áreas da arquitetura e engenharia, coordenada por Teresa Cunha Ferreira (FAUP) e composta por Rui Fernandes Póvoas (FAUP), Paulo B. Lourenço (Universidade do Minho) e Ana Tostões (IST-Universidade de Lisboa, Presidente do DOCOMOMO Internacional).
O projecto contará também com a participação ativa do arquitecto Álvaro Siza, do ICOMOS-Portugal, assim como com o apoio da Câmara Municipal de Matosinhos e o apoio institucional da Casa da Arquitectura. O projeto poderá beneficiar ainda da colaboração de outros docentes e investigadores da FAUP, e do envolvimento de especialistas nacionais e internacionais com experiência na temática da conservação da arquitetura moderna (ICOMOS, DOCOMOMO, Getty Conservation Institute, entre outros).
Piscina de Marés
Construída na década de 1960 e inaugurada em 1966, a Piscina de Marés permanece como uma das obras mais emblemáticas do arquiteto Álvaro Siza. Localizada em Leça da Palmeira, destaca-se pela integração harmoniosa na paisagem da costa marítima. Inclui duas piscinas de água salgada, vestiários, balneários, e um bar de apoio, funcionando durante a época balnear, entre junho e setembro. Durante todo o ano é possível a realização de visitas guiadas de interesse arquitetónico e/ou técnico, através da Casa da Arquitetura. Em 2011, a obra foi classificada como Monumento Nacional e, em 2017, incluída na lista indicativa do Património Mundial pela UNESCO. Com projeto do arquiteto Álvaro Siza, a Câmara Municipal de Matosinhos deu início em 2019 ao processo de requalificação do conjunto, estando a obra ainda em curso.
Programa “Keeping It Modern” da Fundação Getty
Com este projeto, a Piscina de Marés junta-se a um conjunto de 77 edifícios construídos no século XX em 40 países do mundo distinguidos no âmbito do programa “Keeping it Modern” da Fundação Getty.
Ao longo dos últimos seis anos, foram selecionados projetos de conservação e salvaguarda de edifícios como a Robie House de Frank Lloyd Wright (Chicago, Estados Unidos), o edifício da Bauhaus de Walter Gropius (Dessau, Alemanha), a Casa E-1027 de Eileen Gray, (Roquebrune-Cap-Martin, França), o Sanatório Paimio de Alvar Aalto (Paimio, Finlândia), o Apartamento e Estúdio de Le Corbusier (Paris, França), o MASP - Museu de Arte de São Paulo de Lina Bo Bardi (São Paulo, Brasil) ou a Casa Eames de Charles e Ray Eames (Califórnia, Estados Unidos). Em 2019, foi distinguido o projeto para a Estação Central da Beira, em Moçambique, coordenado pela Universidade do Minho.
A chamada “reutilização adaptativa” dos edifícios e os desafios de manutenção e conservação são transversais a todas as propostas premiadas este ano (lista completa disponível em www.getty.edu).