Conforme defendido na Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (UNESCO, 2016) a conservação, reuso e valorização do património é não só um desígnio cultural, mas também uma exigência social, ecológica e económica. No entanto, nas áreas do urbanismo/arquitetura/construção, verifica-se ainda um maior investimento em novas construções, em vez de reutilizar, valorizar e manter o património edificado existente como um recurso para o desenvolvimento sustentável e como suporte de identidades locais e memórias coletivas. Apesar de algumas tentativas (ICOMOS 2019), faltam quadros internacionais de referência teórica, metodológica e de práticas de projeto qualificado no património. O conhecimento encontra-se disperso, em particular sobre as últimas décadas, em que os avanços científicos e tecnológicos permitiram novas possibilidades no projeto no património arquitetónico.

Portugal não é exceção e existe um grande excedente de construção nova e o sector da reabilitação/conservação encontra-se muito aquém da média dos países europeus. Além disso, apesar da sua longa estratificação histórica e dos 3.811 imóveis classificados, não existem estudos sistemáticos e abrangentes sobre as práticas de projeto no património cultural nos últimos 50 anos. Assim, falta proceder a uma reflexão crítica sobre processos e métodos de projeto e compilar os conhecimentos adquiridos, que permitam a sua translação para a pedagogia e para melhorar a praxis futura.

Neste contexto, o Projecto Exploratório H-ATLAS.Porto pretende colmatar esta lacuna, incidindo sobre práticas de intervenção no património construído desenvolvidas por arquitetos da Escola do Porto, com o objetivo de dar um primeiro contributo para um estudo mais abrangente de construção de um Atlas do Projeto em Património Arquitetónico em Portugal. Este primeiro contributo para um projeto mais abrangente, começa pela chamada Escola do Porto, considerada uma referência nacional e internacional no panorama arquitetónico (Frampton, 1991) com dois vencedores do Prémio Pritzker (Álvaro Siza e Eduardo Souto Moura). Os mestres da Escola do Porto (de onde se destacam Fernando Távora, Alcino Soutinho, Álvaro Siza e Eduardo Souto Moura, entre muitos outros) têm vindo a deixar também um importante legado e pedagogia no projeto sobre o património arquitetónico que se perpetua pelos seus discípulos até ao presente. No entanto, o conhecimento sobre estas práticas encontra-se disperso e as 'memórias de projeto' correm o risco de se perder, pelo que este projeto procura sistematizar, divulgar e assim contribuir futuras intervenções no o património arquitetónico.

Para o efeito, o projeto H-ATLAS.Porto irá desenvolver-se nas seguintes tarefas: 1) Contextualização teórica e conceptual (internacional, nacional, regional) e definição de indicadores; 2) Inventário georreferenciado de intervenções e seleção de obras a documentar; 3) Documentação de projetos e obras; 4) Disseminação e transferência de conhecimento, mediante diferentes ações: participação em conferências e publicação de artigos, workshops colaborativos, conferência final para divulgação dos resultados e a edição de um livro com os resultados do projeto.

H-ATLAS.Porto integra-se na Cátedra UNESCO ‘Heritage, Cities and Landscapes. Sustainable Management, Conservation, Planning and Design’ e constitui um primeiro ensaio exploratório para um projeto mais abrangente e contribui para o avanço do conhecimento através do estudo e valorização do património e da arquitetura Portuguesa num quadro internacional.