Matosinhos. Arquitectura e Urbanismo em Três Modernidades

O projeto resulta de um convite da Câmara Municipal de Matosinhos à Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, para a elaboração de um estudo inédito sobre a evolução da arquitetura contemporânea e o seu impacto no desenvolvimento urbano, cultural, turístico e económico-social do concelho de Matosinhos, desde a construção do Porto de Leixões até aos dias atuais.

O trabalho enquadra-se no Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo (CEAU) da FAUP e beneficia da colaboração de investigadores com diferentes formações de base: arquitetura, geografia, sociologia: Teresa Cunha Ferreira, Álvaro Domingues, Ana Catarina Costa, Carlos Machado, Clara Pimenta do Vale, Rui Fernandes Póvoas e Virgílio Borges Ferreira.

O estudo constitui-se como um ensaio exploratório que pode lançar outras leituras e perspetivas interpretativas sobre Matosinhos. A partir do mapeamento de mais de 100 factos arquitetónicos e urbanos, enquadrados em três modernidades (com diferentes tempos, ritmos e escalas que definem o seu contexto social e político), o estudo abarca um arco temporal desde o início da construção do Porto de Leixões em 1884, ao encerramento da Refinaria da Petrogal em 2022.

Este projeto, materializado na publicação de um livro e na realização de uma exposição, resulta da encomenda da Câmara Municipal de Matosinhos à Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). O trabalho foi desenvolvido no Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo CEAU-FAUP, na sua missão de cruzar a investigação académica interdisciplinar com a investigação aplicada e o serviço à comunidade.

A metodologia de trabalho combina diferentes tipos de fontes (arquivísticas, bibliográficas, cartográficas, fotográficas, desenhadas), suportada em trabalho de campo (registos fotográficos, de levantamento e de observação) e na realização de entrevistas a actores-chave envolvidos nos processos de urbanização, assim como na elaboração de sínteses cartográficas.

Ultrapassando visões redutoras sobre objetos icónicos conotados com arquiteturas de autor, amplia-se, assim, o âmbito da investigação captando a diversidade sociocultural de Matosinhos numa das suas áreas mais densamente urbanizadas e transformadas ao longo dos últimos 150 anos, incluindo mais de oitenta factos arquitetónicos e urbanos, enquadrados em três modernidades, do início da construção do Porto de Leixões em 1884, ao encerramento da Refinaria da Petrogal em 2022, o facto mais marcante do próximo futuro.

O que quer que seja, o turbilhão da modernidade tudo abarca: o pensamento, os valores, as relações sociais, a política, a criação artística, a ciência e a tecnologia, a expansão do capitalismo, o conflito, ou a democracia. A utopia do progresso e da emancipação que produziriam o homem novo e a sociedade ideal, acompanhariam esse tumulto.

Esta é a questão. “Matosinhos em três modernidades” é uma expressão que pretende traduzir o processo descontínuo da modernização, entendida não como um genérico universal e linear, mas, como um processo turbulento, descontínuo, reagindo às mais diversas conjunturas locais, nacionais e globais. O destaque de três episódios serve para pontuar três períodos relativamente curtos, mas intensos, ora reforçando continuidades, ora colocando novas peças, rupturas e transformações.

1 — O primeiro episódio cobre o final do século XIX e os anos 1930’. A grande obra do Porto de Leixões e a rápida industrialização centrada na indústria conserveira, serão os motores de urbanização mais potentes.
2 — Instituída a ditadura do Estado Novo, o conservadorismo e o fechamento do país, será nos pós Segunda Guerra Mundial que se assistirá à retoma do processo de modernização e a outra vaga de investimentos acelerada pelo Plano Marshall, pela adesão de Portugal à OCDE e pelas pressões políticas ao regime.
3 — Implantada a democracia em Abril de 1974, fundado o poder municipal de que os novos Paços do Concelho constituem o ícone de referência, e após à adesão de Portugal à então CEE, assiste-se a um novo ímpeto de investimento público, particularmente intenso até aos anos de 2010: da infraestruturação, à habitação pública e cooperativa, e à rede de equipamentos e serviços públicos, a construção do Estado Social criou um país diferente. Este é também o tempo da desindustrialização. Instalada na antiga Real Vinícola, pioneira da zona industrial conserveira, a Casa da Arquitectura é um dos símbolos mais expressivos da nova modernidade instalada sobre os despojos da primeira, tal como o fecho da refinaria é o prenúncio de uma oportunidade de dimensões ainda imprevisíveis.

+ Info.: cm-matosinhos